Fui à pastelaria comprar um palmier coberto. Sentei-me cá fora, no muro do hotel Barcelona, à fresquinha, a comê-lo. O grande leopardo vermelho do reclamo luminoso olhou-me com os seus olhos coruscantes. Passaram pessoas à minha frente. Passaram também táxis, camionetas, autopullmans cheios de turistas. Passou o cão coxo e passou o poeta. Ao vê-los passar, nem sei bem por quê, tentei recordar o poema preferido do João. Não consegui. Só sei que fala de amor, de uma pedra e de uma faca. A minha vida começa a ser apenas esquecimento. Penso nisso, no esquecimento, assusto-me e não sossego. Tentei então recordar o grito abafado do João quando certa vez lhe fiz uma mamada na casa de banho da Biblioteca Nacional. A minha memória não é sensível à poesia, nem ao amor, mas é perita em guardar o que é sórdido, vulgar, ordinário. Foi um esforço em vão. Deu-me vontade de chorar. Desfiz-me em lágrimas, ali no muro do hotel Barcelona, sentada à fresquinha enquanto comia um palmier coberto. Chorei durante muito tempo. As lágrimas escorreram e formaram um grande lago no cruzamento da Avenida de Berna com a 5 de Outubro. Felizmente, o grande leopardo vermelho, aturdido com o meu choro, saltou do reclamo luminoso. Lambeu docemente a minha cara e, depois de lançar um extraordinário rugido, engoliu-me. É um bicho bondoso.
Sou Ana de cabo a tenente/ Sou Ana de toda patente, das Índias/ Sou Ana do oriente, ocidente, acidente, gelada/ Sou Ana, obrigada/ Até amanhã, sou Ana/ Do cabo, do raso, do rabo, dos ratos/ Sou Ana de Amsterdam.
2015/06/30
2015/06/22
Mãos
Todas as segundas-feiras, à hora do almoço, na quietude do gabinete, quando apenas se escuta o ronco do ar-condicionado e, ao longe, por vezes, os passos pesados da Rosalina, pego na tesoura do papel e corto as unhas bem curtas. Recolho as que caem na mesa e meto-as no caixote do lixo. Fico depois a admirar as minhas mãos de dedos curtos, grossos, unhas de menina, limpas, com pequenas manchas brancas, sem saber o que fazer a seguir. Às vezes, tiro um livro da mala e leio. Outras vezes, como hoje, fico simplesmente paralisada, a olhar o azul do céu. Gosto muito das minhas mãos. Com mãos tudo se faz e se desfaz.
2015/06/20
Líbido
Na altura, a revelação da verdadeira razão da vinda para Portugal da Maria de Lurdes caiu como uma bomba e cobriu de vergonha a minha família goesa. Passados alguns anos, a história está quase esquecida, ninguém fala do assunto. “Acabou por ter sorte, casou com um veterinário de Benaulim, tem um filho e uma filha, muito bonitos, quase brancos, mas continua completamente louca…”, explica o meu pai e, quando pronuncia a palavra “louca”, faz uma cara de nojo que acentua a sua fealdade. “Louca?”, pergunto-lhe, divertida com a conversa. O meu pai parece hesitar, olha fixamente Parvati, a segunda consorte de Shiva, enquanto calça os ténis que comprámos há dois anos em Nova Deli. “É tarada. Só pensa em sexo”, acaba por responder e explica os contornos da vergonhosa líbido da sobrinha. Dotada de um desejo insaciável, uma fogosidade intensa, parece que a minha prima não dá descanso ao marido. O veterinário, de tanto lhe acudir, sente-se esgotado, tão esgotado que até já pediu ajuda ao Marlindo. O Marlindo, também meu primo, psiquiatra numa plataforma no mar do Dubai, receitou-lhe uns comprimidos e, beato, baboso, devoto, mandou-o rezar o terço logo de manhã. Nada fez efeito. “O marido da Maria de Lurdes nem parece o mesmo. Encontrei-o na festa da tia Maria e, de tão chupado, está irreconhecível.”, remata o meu pai e, sem mais, sai para a sua caminhada. Corro atrás dele, custa-me acompanhar a sua acelerada passada. O meu pai é um velho mau e formidável. Ao lado dele, sou feliz; miserável, mas feliz. Caminho e, na noite que cai, sinto-me afortunada pela família que tenho. Há de tudo: ninfomaníacas, deprimidos, maníaco-depressivos, mitómanos e até um primo esquizofrénico. Assim é que é bom. Detestaria ter uma família onde só houvesse gente estupidamente sã, insuportavelmente feliz.
2015/06/18
Jói de laranja
O psiquiatra diz que devo contrariar a solidão. Aconselha-me a estar com outras pessoas, conhecer outras pessoas, falar com outras pessoas. Inscrevi-me por isso num clube de leitura. É organizado por uma associação recreativa que funciona num palacete em Xabregas. Servem bolinhos secos de pacote, jói de laranja e chá preto. No primeiro encontro, foi hoje, falei com uma rapariga ruiva e uma outra, de caracóis largos, que se atrapalhou a dizer o nome de um dos livros do Italo Calvino. A ruiva cheira a suor, tem os dedos dos pés gordos e enclavinhados, mas é simpática, ri-se bastante. A dos caracóis nem por isso, parece uma monja, tem um ar pesado, circunspecto, próprio de quem considera a literatura um assunto sério, intocável, essencial. “Nunca deixo um livro a meio”, disse com voz enfadonha quando lhe expliquei que cada vez tenho mais dificuldade em acabar uma história. Até dia 4 de Julho tenho de ler “O Baile”, da Irene Nemirovsky. Li-o há coisa de um ano, sei que gostei de o ler, e, no entanto, não me lembro da história, nem sequer de uma personagem, de uma frase ou de uma palavra. Pergunto-me: leio para quê?
2015/06/17
Sainete
No Festival Literário da Gardunha, conheci o João Ricardo Pedro que, ao almoço, enquanto comíamos, desconsolados, um bacalhau desfeito numa cama de puré, explicou ter a certeza de que na vida apenas escreverá três ou quatro romances. Lembrei-me do Albert Cossery, escritor egípcio que fez a apologia da preguiça e do ócio. Cossery viveu até aos 90 anos e deixou apenas oito romances escritos. Foi um escritor de uma qualidade singular, raríssima, original. Se fazia a apologia da preguiça e do ócio não era por ser madraço, ou desprendido, mas por ver nestas atitudes o veículo essencial para uma actividade interior intensa de reflexão sobre a vida e o mundo. Numa das suas entrevistas, estranhava aqueles escritores que escrevem cinco páginas por dia. Referindo-se a esses escribas, explicou: “Não escrevem, apenas redigem um texto qualquer. Eu escrevo uma frase. Simplesmente, reviro-a vinte vezes para conseguir dizer alguma coisa.” Às vezes, passeando pelas livrarias, folheando este e aquele livro, fico com a sensação de que são poucos os autores que reflectem sobre aquilo que escrevem e amadurecem as suas obras. Têm competência narrativa e pouco mais. Talvez muitos desses escritores sejam pressionados pelas suas editoras para publicar, não sei, talvez outros tantos procurem na escrita um certo prestígio social. Ser escritor dá muito sainete. Se me perguntarem o que sou e eu disser que sou bancária, ninguém me ligará, mas se disser que sou escritora, todos arremelgarão os olhos de admiração, pouco ou nada importando se o meu trabalho é bom ou mau. Acontece que os leitores, os verdadeiros leitores, não são tolos, são exigentes e inteligentes. Percebem quando um livro é um grande embuste. O que mais para aí há são livros que são grandes embustes. Quando falo de embustes não me refiro a esses livros que enchem as montras e os escaparates das livrarias. Esses, sendo o que são, pelo menos são autênticos, não aspiram à qualidade que a literatura, a verdadeira literatura reclama. Falo de um outro tipo de escrita, que se demarca dessa primeira, que goza até essa outra, a tal que é ligeira, light, mas que, bem vistas as coisas, muitas vezes, tantas vezes, não é muito diferente. Poderia enunciar uma mão cheia de autores, premiados, lidos, consagrados que melhor fariam em estrangular a voz e manter-se calados. E se não digo nomes é apenas por cobardia. Ser cobarde faz parte da minha natureza. Ao ouvir o João Ricardo Pedro dizer que apenas escreverá três ou quatro romances senti-me envergonhada por, cedendo à minha própria vaidade, miserável vaidadezinha, ter publicado uma colectânea de textos de um blogue, mais ainda por ter ficado magoada com a apreciação que a Lúcia fez do romance que escrevi.
2015/06/16
Feijão-frade
Faltam-me os dois últimos molares da arcada superior. Apodreceram há alguns anos e tive de os arrancar. A sua falta, não me desfeando o sorriso, dificulta a mastigação de certos alimentos. Para além de me faltarem esses dois dentes, aos quarenta e três anos, já tenho um implante e uma coroa. Hoje, à hora do almoço, enquanto chupava uma casca de feijão frade dos dentes, fui novamente assaltada pelo medo de ficar desdentada. É um medo relativamente recente. A Virginia Woolf aos trinta e poucos anos arrancou três dentes de uma assentada. Esse facto, chegado ao meu conhecimento através da leitura do seu diário, impressionou-me muito. Até então, sempre que a convocava aparecia-me pela frente uma rapariga vestida de branco, sorriso quase imperceptível, olhos plácidos, caídos para o chão, o cabelo escuro apanhado sem preocupação. É assim que Virginia aparece na sua fotografia mais famosa. Já não consigo imaginá-la assim, etérea, ausente, como um espectro. Se penso nela, e penso muitas vezes, vejo apenas um corpo doente, apodrecido. Uma mulher velha, enlouquecendo devagar, cada vez mais triste, cada vez mais feia.
2015/06/15
Lava
A Madalena está no treino, os rapazes estão no pátio a jogar à bola com o miúdo que se mudou para o apartamento do lado. Deambulo pelos quartos, pela sala. Tudo nesta casa está velho, gasto, há azulejos partidos, tacos levantados, as paredes estão sujas, precisam de pintura nova. Gostava de mudar de casa, de começar noutro sítio qualquer, mas não tenho nem dinheiro nem energia. Pego no livro que ando a ler. Memento Mori, da Muriel Spark. Não estou a gostar muito. Sinto uma picada por baixo do braço. Apareceu-me a menstruação esta manhã. Dói-me, como sempre, a mama esquerda. Volto à cozinha, espreito o bolo de banana que prometi fazer ao Joaquim. Leva bicarbonato de sódio em vez de fermento. Talvez por isso esteja tão bonito, a forma cheia. O dia termina, lá fora já quase não há luz. É a hora da solidão e do silêncio. A hora da metamorfose. Passo a ser nada, apenas o vazio. Gostava de me transcender pela escrita. Ser mais qualquer coisa através da escrita. Na semana passada, enquanto corria, surgiu-me uma ideia para um livro. É uma ideia boa, cheia de força, mas tenho medo de me sentar em frente do computador e de começar a escrever. O Deniz disse-me um destes dias que a sua amiga T. pontua melhor do que eu. Fiquei a pensar no assunto. Pontuar bem um texto é muito importante. Já não há quem pontue bem um texto. Quem escreva uma frase com absoluta correcção. Sinto-me triste, sozinha, a solidão pesa-me, estranhamente, porém, não quero estar com ninguém. Quero apenas abrir uma garrafa de vinho e beber dois ou três copos. Bebo demais. O vinho dá-me paz, adormece-me. Tenho comichão na mão. Acho que estou novamente com escabiose.
2015/06/09
2015/06/08
Areal
Quando o negro das pulseiras passa no areal, serpenteando entre guarda-sóis, à procura de freguesas que queiram uma fitinha da nossa senhora do Bonfim, deixa no ar um cheiro intenso a suor. A rapariga de cabelo oxigenado, o biquíni branco, muito cavado, enfiado no rego do rabo, faz uma careta de nojo e, com exagero, abana a mão em frente do rosto. O namorado, musculado e tatuado, ri numa hilaridade forçada, tão boçal, que a argolinha que traz presa no mamilo esquerdo se solta e cai na areia da praia. Que aflição! Agora a rapariga do cabelo oxigenado anda ali, de rabo para o ar, à procura da argolinha de ouro. O namorado merece o esforço, não cheira a catinga, isso não, cheira a patchouli, a madeiras de sândalo, é tão bonito e um dia, se Deus quiser, há-de ter um Audi descapotável. A loira dá um grito estridente. Encontrou finalmente o pequeno tesouro. O namorado puxa-a para si e beija-a à vista de todos. Voltam a rir. Riem durante muito tempo, esquecidos do negro que passou no areal e deixou no ar um cheiro intenso a suor.
2015/06/04
Bravura
Na aldeia, para além do Luís, não há quem lá queira trabalhar. Os homens preferem ir gerindo os cursos de formação profissional e os subsídios de desemprego. As mulheres fazem sopas de tomate com peixe frito para o almoço e educam os filhos nos intervalos dos programas de televisão. Só os búlgaros e romenos aceitam trabalhar nas malhadas. Não são de dar confiança a ninguém, pouco sorriem, não frequentam o café da associação de moradores, mas a Mena diz que são bons trabalhadores. Trabalhar nas malhadas é duro: alimentar centenas de animais, medicá-los, pesá-los, manter as boxes limpas, suportar as mordeduras das parideiras, não temer os varrascos, enormes porcos de pêlo escuro e dentes afiados, que, parecendo pré-históricos, se destinam unicamente à cobrição.
Por isso, quando o meu filho João, há quatro anos, me perguntou se podia trabalhar nas malhadas, expliquei-lhe que apreciava a sua iniciativa, mas que aquilo era trabalho para homens feitos, não para rapazinhos de doze anos. Perante a sua insistência, acabei por falar com a Mena. “Deixa-o vir. Só lhe faz bem. Arranjo qualquer coisa para ele fazer e no fim dou-lhe uma nota!”, disse a minha prima, sempre sorridente, sempre bonita. Nessas férias, durante duas semanas, o meu filho mais velho trabalhou nas malhadas. Disciplinado, levantava-se às seis da manhã, vestia o fato-macaco, tomava o pequeno-almoço sozinho. Às seis e meia já estava à porta da casa da Mena para irem buscar os búlgaros e os romenos às Minas do Lousal. Trabalhava só até ao meio-dia. Nunca percebi ao certo o que lá fazia, só sei que, à hora do calor, quando regressava a casa, subia a única rua da aldeia com ar satisfeito. Sujo, tisnado, largando um cheiro fétido a merda de porco, mas satisfeito. As vizinhas mais velhas, a Antónia, a Teresa e a Preciosa dos queijos, vendo-o passar, metiam-se com ele. O calor a pesar-lhe no corpo e ele, gentil, parava a conversar com as velhotas. As velhacas das velhas riam-se, gozavam um pouco o prato. “Ai João, ai mocinho, deixa lá os porcos, vai mas é para a praia com a mãe e os manos.”, diziam, incapazes de perceber por que razão um rapaz da cidade havia de querer experimentar um trabalho sujo, indigno, um trabalho que ninguém na aldeia se rebaixava a aceitar.
Nesses quinze dias, por volta do meio-dia, o João subiu sempre a rua muito devagar, parando a conversar com as velhas da aldeia. No último dia de trabalho, porém, ao contrário do que era habitual, subiu a rua numa passada acelerada. Vinha com pressa, com muita pressa, não parou para falar à vizinha Antónia nem apanhou uma flor para me trazer. Abrasava e, da varanda, enquanto o esperava, conseguia ver as ondas de calor. Pensei que viesse com vontade de ir à casa de banho, mas, quando chegou perto de mim, não trazia o ar aflito com que fica sempre que precisa de aliviar as tripas. Trazia, bem pelo contrário, um grande sorriso nos lábios. “Mãe, tenho uma coisa para te contar!” explicou e, sujo, o fato-macaco duro das lamas da pecuária, começou a falar aos atropelos. Antes que pudesse continuar, dei-lhe um grito, mandei-o tirar a roupa e tomar um banho. Já à mesa, enquanto lhe servia o almoço, contou por fim a sua história. Pela manhã, um dos búlgaros, o Yuri, dera com uma cria doente. Magoara-se na grade da box e tinha uma pata partida. A Mena viera com a engenheira Sónia ver o bicho. Chegaram à conclusão de que não havia nada a fazer. Era preciso matar a cria e deitá-la ao lixo. O Yuri pegara imediatamente numa pá para realizar a tarefa. Foi então que ele, o meu filho, lhe arrancara a pá das mãos e reclamara para si a tarefa. “Quis ser eu a matá-lo, mãe! Bati-lhe com força quatro vezes e morreu num instantinho!”, contou sentindo um estranho orgulho que me assustou, me meteu até nojo. No final, o búlgaro deu-lhe uma palmadinha nas costas e disse “ Ah, João, foste valente!”.
Nesse verão, entre primos e tios, avós, amigos, a façanha do João foi muito comentada por ser um exemplo de coragem e viril bravura adequadas ao seu género. Passaram quatro anos. O meu filho nunca mais voltou a falar da sua glória de infância. Espero que a tenha esquecido. Já eu não a esqueço. Às vezes, quando menos espero, surgem à minha frente as imagens que construí a partir do relato que me fez naquela tarde. De tão vivo e entusiasta, consigo pairar, como um pequeno pássaro, nas traves dos barracões das malhadas. Vejo tudo. O meu filho, ainda criança, matando à pazada um pequeno leitão. O seu rosto, redondo e bonito, torcido de fúria. A pequena cria caída na berma escura do esgoto. O búlgaro Yuri acicatando o João como se fosse um cão de fila. A Mena e a engenheira Sónia, sorridentes, batendo palmas.
2015/06/03
Kamikaze
O problema, como lhes costumo dizer, é deles, não meu. Não tenho compromissos, sou livre como uma borboletinha. Não traio ninguém. Três homens casados, mas muito diferentes. Conheço o Alexandre há dez anos, encontramo-nos em quartos de hotel quando nos apetece. Os nossos corpos conhecem-se de outras vidas, encaixamos perfeitamente, tocamo-nos como bichos, sem filtros, sem inibições. Ele sabe o que me dá prazer. Sei o que lhe dá prazer. Gosta, por exemplo, que lhe lamba os testículos. Nunca me fala da mulher ou dos filhos. A última vez que estivemos juntos explicou-me o que era uma didascália e, depois de me beijar as mamas, disse que eu era uma mulher-kamikaze. É o amante perfeito. Não trocamos mensagens, não falamos ao telefone, não nos encontramos para almoçar. O segundo amante, recente, novato, é muito diferente. Encontrei-o por acaso na fila do pão. Bonito e escultural, mas um pouco parvo. Empolga-se, diz que os meus olhos castanhos são lindos e que a minha boca tem a cor das framboesas maduras. Que tédio, que miserável tédio! Chama-se Miguel e acho que o vou deixar. Fala-me de amor, um amor aborrecido e previsível, mas depois, pobre coitado, partilha comigo histórias sobre a mulher e as duas filhas. Na semana passada, depois de me oferecer um livrinho de merda que naturalmente não lerei, disse que a mulher, empregada bancária, é a rocha que sustenta a sua vida. Não vou para a cama com um homem para o ouvir falar da sua mulher. O terceiro homem casado com quem me deito é o homem que amo. Um homem inteligente, bonito, o mais bonito do mundo, não há homem igual, mas pelo qual não tenho qualquer tipo de entusiasmo sexual. Deito-me com esse homem quando ele quer, sou dissimulada, detestável, finjo orgasmos, simplesmente porque preciso de senti-lo perto de mim.
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