2011/10/02

Rio

Passam velozes, solitários, como se fossem gazelas ou lebres, ou bafejando em manada, touros, bisontes, bois almiscarados. Um rapaz negro corre por cima do muro que separa o parque do rio. Movimenta-se na perfeição. Os homens correm com elegância, com passadas largas e pesadas, fazem estremecer o rio, espantam gaivotas, mergulhões, flamingos. Já as mulheres, as poucas que por ali andam, correm mal. Terão certamente corrido em meninas; desaprenderam, depois. Metem os pés para fora. Enrijecem os braços, não sabem o que lhes fazer. Abanam a cabeça como se fossem cães articulados, daqueles que, entre almofadas de renda, se colocam na parte de trás dos automóveis. Bufam como vacas. Quando são gordas, abanam as mamas, as carnes flácidas, largam uma gordura quente e amarela que se espalha por todo o lado. Um homem gordo corre como um touro, um rinoceronte, um elefante até. Uma mulher gorda corre como uma perua imensa, soltando gorgolejos insuportáveis. Glu-glu-glu-glu. Por vezes, tento imitar os homens-lebre. Acelero o ritmo. Corro mais depressa. Desisto pouco depois. Corro o risco morrer junto ao rio. Nunca serei uma lebre. Sou uma tartaruga. Vagarosa, tão velha. Corro com passos pequeninos de bicho antigo, mas chego sempre à meta.