A parola genuína lê a TV Guia, a Maria, a Mariana, a Ana, a TV Setedias. Já a parola encoberta lê a Caras, a Vogue e a Blue Living. A parola genuína, pura e simplesmente, não lê livros. Nunca entrou numa livraria. Nem quer. A parola encoberta lê livros do Paulo Coelho, da Margarida Rebelo Pinto, do Nicholas Sparks. Já leu, evidentemente, o Código Da Vinci, o Equador e o Codex não sei das quantas. Ficou satisfeita consigo própria por ter sido capaz de ler livros com tantas páginas. Entre toda a porcaria que lê, apenas se salvam, com alguma boa vontade, os cansativos, sempre iguais, romances da Isabel Allende. A parola genuína assume as suas banhas. Está a borrifar-se para a celulite e para as estrias. A parola encoberta quer ser linda. Besunta, pela manhã e à noite, o corpo com cremes anti-estrias e anti-celulite, caríssimos, esverdeados da Vichy e da Clarins. Gasta rios de dinheiro com produtos de perfumaria e de maquilhagem. Fez nuances para ficar com uns reflexos louros no cabelo. A parola genuína compra na Feira do Relógio, no Lidl, no Minipreço. A parola encoberta faz um ar de nojo quando se fala no Lidl. Diz que prefere fazer as suas compras nos supermercados do El Corte Inglês ou do Pingo Doce. O sonho da parola genuína é sair do Catujal, dos Unhos ou de Camarate e ir viver para um apartamento de quatro assoalhadas na Quinta da Piedade. O sonho da parola encoberta é ir viver para o Parque das Nações ou para o centro de Lisboa.