O Partido Socialista, após o desaire nas eleições legislativas, resolveu proibir as candidaturas simultâneas às legislativas e autárquicas. Como explica, e bem, o Paulo Ferreira, no editorial do Público, é a decisão certa tomada pelas piores razões. O PSD aproveita para criticar a oportunidade da decisão. O partido parece um cão raivoso e esfaimado, já se avistam os dentes aguçados, cai-lhe um fio de baba, lambe os beiços, rebola de riso, convence-se de uma vitória que está longe de ser certa. Há muitos sociais-democratas que já sonham com um lugar de adjunto, assessor, chefe de gabinete. Mais valia ao PSD engolir os comentários acintosos. Portar-se com recato e ponderação. É que, se bem me lembro, a mais lamentável traição feita aos eleitores portuguesas veio das suas fileiras, foi levada a cabo por um social-democrata. Quando Durão Barroso se candidatou às legislativas de 2002 ninguém contava com a possibilidade de o dito vir a aceitar o convite para a presidência da Comissão Europeia. Quem nele votou acreditou no seu empenho pessoal, na sua vontade de mudar e de se distanciar do lamentável estado despesista que Guterres nos legou.
Que passado pouco tempo das eleições tenha trocado o seu país por um prestigiante cargo internacional, foi algo inesperado, nunca visto, digno de um país terceiro mundista. De repente, os portugueses, sobretudo os que nele votaram, viram-se confrontados com um primeiro-ministro que colocou, de forma descarada, os seus interesses pessoais à frente do interesse do país e que nos deixou entregues a quem não sabia sequer distinguir descentralização de desconcentração. O gesto de Durão Barroso foi a atitude política mais infame do Portugal democrático. Nunca ninguém desrespeitou tanto o voto dos portugueses como Durão Barroso. É, por isso, que me parece que, ao contrário do que se diz, as duplas candidaturas de Ana Gomes e de Elisa Ferreira são honestas. Pelo menos, os eleitores sabem com o que contam. Sabem, de antemão, que, caso sejam eleitas nas autárquicas, deixarão de cumprir o seu mandato europeu. É uma atitude mais transparente do que a de alguém que nunca explicou aos seus eleitores que estava ali de passagem, à espera de qualquer coisa melhor.