2011/09/22

Enfant

Nove bailarinos e um grupo de crianças movimentam-se num palco escuro que lembra a noite. A princípio, os corpos das crianças são transportados, manipulados, atirados, como se não fossem gente. São apenas objectos. Depois, ganham autonomia, vontade própria. Gostei pouco do espectáculo do Boris Charmatz. A minha filha, companheira forçada destas andanças, também, pobrezinha, que bem lhe vi os olhos muito abertos. Ao olhá-la, esqueci a desilusão recente, por mim não assumida, quando me anunciou a decisão de desistir do violino. Até me deu uma pontada, ai que me partes o coração, malandra, mas não dei parte de fraca. Não me importo, disse-lhe, ora essa, claro que não me importo, tu é que decides, se gostas mais da ginástica, deves optar pela ginástica, mas espero que sejas uma Olga Korbut, uma Nádia Comaneci, a melhor, campeã disto e daquilo, quero uma parede cheia de medalhas e troféus; acautela-te, porém, avisei-a, que tantas horas de treino diário te podem dar cabo do corpo, acabas triangular, dorso largo e masculino, sem mamas, sem rabo, atarracadinha como uma anã.