Escrevo
no átrio do hotel Agra Mahal, pardieiro imundo, a banheira cheia de
sujidade, os lençóis puídos, húmidos, rasgados, com nódoas dos clientes
anteriores. Há um altar a Hanuman, o deus macaco, outro a Ganesh, o deus
elefante, um grande lustre de pingentes vermelhos ao cimo da escadaria. Cheira
a incenso e o empregado do hotel sobe e desce as escadas com ferramentas
ferrugentas nas mãos. Parece haver sempre qualquer coisa para arranjar neste
lugar. Está sentado ao meu lado o filho do dono do hotel, um menino de três
anos que cheira a sementes de anis e a pó de talco. Tem uns olhitos muito
redondos e doces. Corre para o balcão da recepção, dá uma gargalhada e vem numa
corrida enterrar-se no meu colo. Fala em hindi, não percebo uma palavra do que
diz, faço-lhe festas no nariz, ele volta a rir. Tenho saudades dos meus
filhos.