No meio do campo do Operário Futebol Clube de Lisboa, um quadrado verde delimita a zona de dança. Um rapaz, em cima de uma camioneta de caixa aberta, toca órgão e canta canções populares. Atrás, no campo que sobeja, grupos de crianças jogam à bola. Os pontapés na gravilha do campo fazem levantar nuvens brancas de pó. Ficam os meninos cobertos de uma poalha muito fina que os empalidece. São poucos, quase nenhuns, os homens que se disponibilizam para dançar. Preferem ficar junto dos grelhadores, enchendo-se de fumo, bebendo cervejas em copos de plástico. Contam anedotas, falam do jogo do próximo fim-de-semana, afagam os bigodes escuros e aconchegam os testículos. As mulheres, habituadas à ausência dos homens, dançam umas com as outras. Velhas, novas, gordas, desdentadas, movimentam-se com passos ensaiados, acompanhando na perfeição o ritmo das canções que o rapaz do órgão lança do cimo da camioneta.