2007/04/26

Operário Futebol Clube (2)

Uma mulher destaca-se do grupo. É uma loira magnífica. Deve ter perto dos sessenta anos. Usa uma camisola vermelha, de mangas de balão, e corsários pretos muito justos que acentuam as curvas generosas do seu corpo. Nos pés, unas sapatos pontiagudos, com saltos de agulha, combinam com o tom rubro da camisola. O cabelo comprido, e loiro, foi ripado ganhar volume. A loira magnífica é um leão velho, de juba hirsuta, que dança no meio do campo do Operário Futebol Clube de Lisboa, ali perto da Graça. Volta e meia, quando menos se espera, alça a perna que fica, por breves instantes, suspensa no ar. Confere, desse modo, à dança rendilhados que os outros pares ignoram. O rapaz em cima da camioneta continua a cantar. Na sua voz desfilam kizombas, funanás, canções do José Malhoa e do Quim Barreiros. Levo o meu irmão para o quadrado verde. Dançamos uma kizomba, tentando imitar os passos das mulheres que dançam sós, longe dos homens que soltam gargalhadas enquanto comem tiras esturricadas de entremeada. Sonhamos ambos com a praia do Biléne, em Moçambique, onde há regatos de água salgada cheios de algas roxas e peixes invisíveis. Os meus olhos, porém, não largam a loira que, querendo aproveitar o resto do feriado, se atraca ao corpo de um rapaz que usa sapatilhas puma e tem o cabelo empastado de gel.