2007/04/27

Rafaela

Ai Rafaela, Rafaela, tivesse eu à mão uma pistola e não mais falarias ao telefone com a tua sogra, coscuvilhando a vida da Rosa Maria, a tua cunhada que é casada com um brasileiro chamado Dorival e fez uma peregrinação a Fátima. Deu vinte voltas à capelinha das aparições. Ficou, pobre, com os joelhos feitos numa pasta ensanguentada. Tu, tão despeitada, a dizeres à tua sogra que só não cumpres as tuas promessas por causa da hérnia que te estrangula as vértebras. A rosnares à tua sogra que vinte voltas não é nada, que crente que se preze há-de dar pelo menos cinquenta voltas à capelinha onde os pastorinhos viram dançar o sol e falaram com uma senhora vestida de branco que tinha, em seu redor, um halo de santidade. Ámen. Rafaela, Rafaela, tivesse eu à mão uma bomba e não mais soltarias a tua boçal gargalhada que me eriça a pele e me faz arquear a coluna como um gato assanhado. Estoirava-te a mioleira e o resto. Bocadinhos de ti por todo o lado. A tua banda gástrica perdida entre processos e pastas. Eu sei. Era um favor que te fazia. Livrava-te de ti própria. Só era aborrecido para as senhoras da limpeza que chegam vestidas de cansaço, vindas de outros prédios, de outros escritórios, de outras secretárias. Iam ter um trabalho dos diabos para recolher todos os teus pedaços. É que continuas mastodôntica. Mesmo depois da banda gástrica.