Foi então que a minha cunhada, com umas mamas gigantes, prestes a saltar do decote, uma mamas que fazem plof, plof, cada vez que ela se abana, falou. Mordiscando uma tâmara, disse calmamente: Pois eu não gosto nem do Picasso, nem do Dali. São horraaaaarosos! Atenção: ela não disse que eles eram horrorosos. Disse, isso sim, que eles eram horraaaaarosos, assim mesmo, a prolongar o pobre “a” que nem era para ali chamado. E continuou, muito confiante, como uma vaca imensa, tunisina ou argelina, a ruminar a tâmara. Fervi por dentro. O sonho dela é ter na sala um quadro do Albino Moura, aquele tipo que pinta umas gordas em campos de malmequeres e de papoilas. São daqueles quadros que se escolhem nas lojas de decoração em função do padrão dos cortinados e dos sofás. Olhei-a, tão contente consigo própria por ter desdenhado, de uma assentada, dois dos maiores pintores de sempre. Horraaaaarosos! Lembrei-me, depois, de que, quando era rapariga, na vizinhança, era conhecida pela Bo Derek de Sapadores. Contou-me ela, certa vez, derramando orgulho por todo o lado. Enterneci-me. Nem toda a gente tem a sorte de ser cunhada da Bo Derek de Sapadores. Eu, o máximo que consegui foi, no ciclo preparatório, ser conhecida como a Ana Preta do 2º B. Não tem comparação, reconheço. A verdade é que gosto da minha cunhada. Só me aborrece que opine, com jactância, sobre o que desconhece.