2007/10/18

Formol

Quer que use a bigorna ou o martelo de aço? O homem fala-me com cortesia. Escolho o martelo e coloco as mãos sobre uma mesa que cheira a formol. Com golpes certeiros, infalíveis, parte-me as falanges, as falanginhas e as falangetas. Não dou pela dor. Estou morta há tanto tempo. Hão-de estar moídos os ossos das minhas mãos, penso, finalmente enforquei os dedos, estão quinados, mortinhos da silva, não há recuperação possível, acabou-se, por fim, o descanso. Agradeço-lhe o serviço e pergunto se também arranca globos oculares. Claro, tenho até um alicate especial que veio da Coreia e que é perfeito para esse tipo de trabalhos. É só marcar na agenda com a minha recepcionista!, e atira com as luvas de látex para dentro de um recipiente asséptico.