2007/10/07

Insónia

Não sei como aconteceu. Tal nunca me tinha acontecido. Senti o carro bater em qualquer coisa. Num corpo, talvez. Uma espécie de gemido entrou pelas frestas do vidro e segredou-me qualquer coisa ao ouvido. Fiquei à espera. Quando saí do carro percebi que havia uma poça de sangue no alcatrão. O sangue era espesso. Imaginei-o de uma mornidão confortável. Olhei em redor e para cima. Os prédios dormiam sossegados e o vento da madrugada restolhava nas árvores feias do bairro. Olhei em redor e não vi ninguém. Voltei para casa e adormeci. Dormi como há muito não dormia. Não sonhei com caminhos de poeira. Nem com compotas de amoras. Nem com o corpo que ficou na estrada de Sacavém.