Mas, voltando à personagem principal deste texto, o xarope de cerveja preta, era suposto bebermos uma colher daquele milagroso líquido de quatro em quatro horas. Ou de cinco em cinco horas. Ou de seis em seis. Já não sei. Acontece que eu, vítima do vício da gula, adorava o sabor daquele xarope. Não lhe resistia. Cada vez que me apanhava sozinha na cozinha, longe dos olhares recriminadores da minha mãe e da tia Dé, à sorrelfa, engolia uma colher do dito xarope. Às vezes, engolia duas. Outras ainda, três. Era tão sequiosa daquele líquido que, muitas vezes, ignorando as regras da boa educação, alarvemente, bebia o xarope da tacinha. Emborcava-o, directamente, da taça de vidro. O certo é que, quando, antes de nos deitarmos, a minha mãe ia à cozinha buscar o remédio para nos tratar as maleitas, encontrava, quase sempre, a tacinha vazia. Quando a via assim, esvaziada, olhava-me com aqueles olhos de menina que Deus lhe deu e, sem falar, dizia-me "É mesmo tontinha, a minha filha".