Não sou capaz de utilizar pontos de exclamação. Cada vez que escrevo uma frase e a faço terminar num ponto de exclamação, fico a olhar para ela. Ela também me olha. Muitas vezes, penso “Se esta frase terminar num ponto de exclamação nunca poderá ser dita por mim”. Por isso, quase sempre, acabo por substituir o ponto de exclamação pelo ponto final. De vez em quando, releio o texto e, em determinada frase, arrisco utilizar, de novo, o ponto de exclamação. Esta batalha entre pontos - o final e o de exclamação - dura, por vezes, muito tempo. Quase sempre sai vitorioso o ponto final que, triunfante, retira toda a emoção que determinada frase poderia ou quereria transmitir.
Há, no entanto, quem use e abuse do ponto de exclamação. As pessoas querem mostrar vidas cheias de emoções, boas e más, e por isso usam e abusam do ponto de exclamação. Mas quantas destas pessoas não terão vidas desinteressantes tal qual a minha? Há até quem utilize mais do que um ponto de exclamação na mesma frase. Isso enerva-me tanto! (agora tinha mesmo de utilizar um ponto de exclamação. É que não me enerva muito. Enerva-me muitíssimo). Para exprimir surpresa, excitação, seja lá o que for, basta utilizar um ponto de exclamação. Quando leio uma frase que termina numa sequência, por vezes, interminável, de pontos de exclamação, penso logo em gente histérica, a quem, se pudesse, administraria doses cavalares de sedativos e tranquilizantes. Ou, então, esbofetearia até sangrarem o entusiasmo pelas fissuras da pele. Se eu fosse um ponto, um sinal, seria, definitivamente, as reticências. Tal como as reticências nas frases, também eu estou sempre a marcar uma interrupção na vida, sem coragem para lhe completar o sentido.