Mamã, o que é uma vagina?, pergunta de rajada, sem me olhar, enquanto traga com sofreguidão os pedaços que farinheira que encontra no prato de cozido. É um outro nome que se dá ao pipi das mulheres, digo-lhe, consciente do ridículo da minha resposta. Enfio uma colher de sopa de espinafres na boca da estrela da tarde. Que sorri, maravilhada, ao ouvir a palavra pipi. Ele dá uma gargalhada. Daquelas que só ele sabe dar. Uma gargalhada que parece fogo de artifício a rebentar. Da boca, saem-lhe fogos de benguela, petardos e foguetes. Que nome tão estúpido!, diz, cansado de tanto rir. Eu, mãe e mulher, consciente do valor primordial da vagina, defensora da superioridade vaginal, riposto. Digo-lhe que pénis é um nome tão estúpido como vagina. Confiante, continuo a alimentar a estrela da tarde. Ele parece não me ouvir. Continua interessado no prato de cozido. Já comeu toda a farinheira. Dedica-se, agora, a procurar os pedaços de chouriço. Olha-me com olhos de desafio. Por fim, pergunta-me o que é um pénis.
(Era tão querido quando era pequenino. Agora, está à beira de se tornar num adolescente imbecil.)
(Era tão querido quando era pequenino. Agora, está à beira de se tornar num adolescente imbecil.)