2007/10/08

Goa

Ela: O avô é indiano!
Ele: Não é nada!
Ela: É, é!
Ele: Não, sua parva! Ele já me explicou que é burguês.

Deixo de esfregar o tabuleiro e viro-me. Burguês? Só depois percebo que burguês é parecido com goês. Bem feito para o meu pai que insiste que ser goês é diferente de ser indiano. Goa, para ele, e para muitos, é um reduto de civilidade católica no meio da bárbara Índia. Não sei se é assim. O sistema de castas, odioso e insustentável, entrelaça também a sociedade goesa. Brâmanes, Chardós, Shudras. Uma talagarça de desprezo mútuo cobrindo tudo. Na boca do neto, o meu pai não é indiano. Nem sequer goês. É burguês. Não corrijo o João. Meto os Kaiser Chiefs a gritar no leitor de cds e damos início ao campeonato de atirar comida à boca. Atiramos pedaços de pão ou de fruta ao ar e tentamos apanhá-los com a boca. Eles ficam impressionados com a minha pontaria. A Madalena é deliciosamente batoteira. O João não. O chão da cozinha acaba repleto de quadradinhos de pêra e metades de morangos.