2007/03/07

Pai

Depois de três meses na Índia, o meu pai volta amanhã para Portugal. As gralhas gigantes vão deixar de pairar por cima da sua cabeça. Deixarão de observar os seus passeios pelos campos na companhia do seu sobrinho Francisco e também as suas movimentações apressadas no jardim e no quintal. Uma roseira aqui. Um hibisco ali. Cortem aquela papaeira. Podem a mangueira. Reguem os limoeiros que estão junto ao muro. As gralhas preparam-se para a ausência do meu pai e para a monção que não tarda a chegar. Do lado de cá, a minha mãe desdobra-se em preparativos e arrumações para que tudo esteja perfeito. Correu hoje ao cabeleireiro a arranjar-se, ela que é tão bonita. Penso no meu pai, na minha mãe, no meu primo Francisco Anastácio, o homem dos olhos doces e dos abraços sinceros, sempre transpirado, sempre despenteado, penso nas perninhas de galinha, com sabor a limão, que a Jessica, sua mulher, me preparou para comer na viagem de comboio para Bombaim, e dá-me vontade de chorar.