Sonho que sou enfermeira. Trabalho num hospício labiríntico. Um sítio triste, lúgubre, que faz lembrar a Roménia de Ceaucescu. Tenho a meu cargo um único doente. É alguém muito especial, que exige vigilância permanente. Um doido varrido.Trata-se do Zé Maria, o rapaz franzino e triste do Big Brother. Está numa camarata imunda, deitado numa cama de metal. Os membros, pernas e braços, estão presos com ligaduras às extremidades da cama. Tudo está sujo, coberto de sarro. Há bolas gigantescas de cotão nos cantos do quarto. Só a minha bata, os meus sapatos, o meu chapéu, que tem uma fita fininha de veludo azul, estão limpos. Sou, estou branca, alva, clara. Abeiro-me da cama. Apesar de preso, o Zé Maria sorri-me com aquele ar de imbecil que Deus lhe deu. Depois de me observar, enquanto verifico se está bem preso, diz, calmamente, na sua pronúncia barranquenha "A Sra. Enfermeira hoje não tirou o buço, pois não?".