2016/05/13

Fanfarra

Às vezes, antes de adormecer, imagino o meu funeral. Para além dos colegas de trabalho, conheço pouca gente. Tenho três amigos. A minha família é pequena. A ideia do meu caixão descendo às profundezas da terra, com meia dúzia de pessoas em redor, mais do que me entristecer, humilha-me. Sei bem que o sucesso de qualquer acontecimento social, festas de aniversário e casamentos, é avaliado pela quantidade de pessoas que a ele assiste. Não consigo escapar desta lógica meramente estatística e por isso sinto um enorme desconforto ao imaginar o meu funeral. Os funerais com muita gente, de tão animados, quase não parecem funerais. O morto é alguém que se cumpriu em vida. Fez muitos amigos, foi amado, querido, respeitado. Nos grandes funerais há sempre reencontros. As pessoas sentem alegria. Conversam. Falam do passado, dão novidades, mostram fotografias dos filhos e dos netos. Há uma máquina de cafés e pratos com esses de limão. Coroas e palmas amontoam-se ao lado do caixão. Perante tanta variedade, às vezes, encontram-se conjugações ousadas de cores e flores. Gosto de grandes funerais. Já um funeral com pouca gente é triste. O morto é um falhado. Os que decidiram acompanhá-lo, por osmose, também. Não nego: gostava de ter um grande funeral, com muita gente a assistir e, se possível, com uma fanfarra a acompanhar. Um funeral igualzinho a um que vi passar em Curtorim, coisa bonita de se ver.