2007/09/10

Chefe Silva (1)

Deixei há muito de ir à feira do livro. A feira deixou de ser a festa que era quando, na nossa meninice, trazíamos sacos cheios de livros da Enid Blyton e da Agatha Christie. Deixou há muito de ser a aventura que foi, durante a adolescência, quando roubava livrinhos das edições avante sobre a luta de classes na China de Deng ou sobre o Maio de 68. Depois, a idade aburguesou-me. Gosto de comprar livros, ainda que mais caros, em livrarias (apesar de Lisboa ser uma cidade de poucas e más livrarias). Por tudo isto, por preguiça sobretudo, deixei de ir à feira do livro. Este ano, porém, a minha irmã soube que em determinado dia o Chefe Silva estaria lá a autografar os seus livros. Ora, todas as mulheres da minha família reverenciam o Chefe Silva. O Chefe Silva faz parte das melhores memórias de minha infância. Passei tardes a folhear os volumes da teleculinária, apreciando os pudins, as gelatinas, as galantines, os estufados, os profiteroles, os biscoitos, os fritos de Natal. Menina ainda, de cabelo muito curto, suspirava com o bolo de noiva no número 29 do volume I. Um bolo em escada, coberto de glacé branco e florzinhas pequenas. Em cima, os noivos, de mãos dadas, tão bonitos, augúrio de felicidade. Passei outras tardes experimentando doces e compotas, licores, bolos e bolinhos, biscoitos.