2007/09/10

Chefe Silva (2)

Uma vez, lembro-me agora, o meu irmão desafiou-me para fazer pastéis de nata. Ignorava, pobre aprendiz, a perícia de mãos que a massa folhada exige. Disse-lhe que sim e corremos a ver a receita nos livros do Chefe Silva. Passámos uma tarde na cozinha. Os pastéis ficaram comestíveis, mas com uma aparência distante da dos que se perfilam nas vitrinas das pastelarias. O meu irmão, porém, rejubilou com o nosso feito culinário. Obrigou toda a gente a provar os ditos e procurou conforto nos elogios forçados. Por fim, sorrindo, com uma solenidade que lhe é muito própria, que lhe está entranhada no corpo, rematou dizendo “Da próxima vez, vamos fazer bolas de Berlim!”. Nunca chegámos a fazê-las. Aliás, felizmente, nunca mais cozinhámos juntos. A cozinha, salvo honrosas excepções, como o Chefe Silva, é coisa para as mulheres. Fico enervada quando vejo homens na minha cozinha, quando me dão conselhos, quando opinam, faz assim, faz assado. A cozinha, mais do que delicadeza, ponderação, imaginação, exige esforço e os homens, é sabido, não estão para isso.