2007/09/15

O peso dos dias

rotina: s. f., caminho já trilhado e sabido; hábito de fazer as mesmas coisas ou sempre da mesma maneira; fig., uso geral; prática constante; índole conservadora ou oposta ao progresso; aversão às inovações; norma estabelecida e fixada por escrito, existente em empresas e no funcionalismo público, que regula as relações departamentais e hierárquicas; fluxo de informação e actuações gerais a levar a cabo sempre que se apresenta determinada situação.
Pesa-me a rotina dos dias iguais. É como se os dias da minha vida tivessem sido produzidos em massa. Em fábricas assépticas, reluzentes. Todos com o mesmo peso, a mesma forma, o mesmo rótulo, as mesmas cores pardacentas. Inodoros, com um sabor indefinido, aguado. Pouco apetecíveis. Como uma chávena de chá morno. Não gosto de chá. Nada mesmo. Água quente sem sabor, sem cor, sem cheiro. Dias iguais. Sempre iguais. Iguais como os pacotes de leite, de farinha, de açúcar, que se enfileiram, aprumados, nas prateleiras dos supermercados. Pesam-me os silêncios, as ausências. Às vezes, tenho a sensação que dentro do meu corpo habita um bicho voraz que se alimenta da minha tristeza. Uma espécie de tumor que cresce à medida que os dias passam iguais. E se um dia o bicho-tumor tomar conta de mim? E se um dia ele rebentar dentro de mim, espalhando, pelos meus órgãos, tecidos, artérias, pedaços putrefactos dos meus dias?