2009/03/10

MEC

Antigamente, quando abria o Público, procurava ler em primeiro lugar a coluna do Eduardo Prado Coelho. Salvas raras excepções, abominava tudo o que escrevia. Gostava de começar o dia assim, com esse frémito de irritação, buscando em cada parágrafo um cliché esquerdista, em cada palavra um vestígio de insuportável pedantismo intelectual. Quando morreu o coro de elogios foi unânime e ruidoso. Acanhei-me perante tamanha homenagem e passei a folhear o Público sem método, desregradamente. Percebo, porém, que isso mudou. Agora, mal abro o jornal pela manhã, procuro a coluna diária do Miguel Esteves Cardoso. Leio-o com assumido deleite. Fale ele do seu neto António, das cancerígenas sardinhas esturricadas ou das subtis variações com que os intelectuais nortenhos pronunciam certas palavras, Mac e Apple, os seus textos mostram como é arguto, mordaz e sincero, absolutamente indispensável. Lê-lo passou a ser um gesto diário como o primeiro cigarro que fumo no estendal depois de deitar, e calar, a canalha pequena.