2006/12/15

Ensopado de lulas

A minha sogra gosta de provocar os outros. Fá-lo com inteligência e intuição. Muitas vezes os outros não percebem que estão a ser provocados ou gozados. É uma qualidade que lhe aprecio. E invejo. Hoje teve o descaramento de me dizer, como se fosse a coisa mais natural do mundo, que a Julieta, a minha Julieta, a Julieta que podia ter nascido do meu ventre, tal é a parecença no mau feitio, é uma cadela muito, muito feia. Horrível!, chegou a dizer. Olhei primeiro para a Fátima que me preparava o almoço, um fumegante ensopado de lulas. Procurei, em vão, consolo junto dela. Geralmente, a Fátima vem sempre em meu auxílio. Desta vez, sem se virar, disse apenas laconicamente que, se calhar, a feiura da Julieta se devia à mudança do pêlo. Fiquei abismada! Fitei de novo a minha sogra. Velha e congestionada, enrolada num xaile preto, pingando ranho aguado para cima de um prato de bróculos e frango estufado. É inteligente. É, porventura, das pessoas mais inteligentes que conheço, mas tomara ela ter metade da beleza da minha Jujuzinha.