2009/10/07

Esmola

Ia a correr para a estação dos comboios, feliz com a chegada da chuva, a pensar nos dióspiros maduros que apanhei no sábado e na galinha que depenei no domingo, sob as orientações jocosas da Maria, quando fui abordada por um homem que, mexendo vigorosamente no pénis, me pediu para lhe fazer um broche. Trazia a cara torcida, num desatino, numa urgência, como se fosse uma questão de vida ou de morte. Abordou-me assim do nada. Logo pela manhã. Tinha eu deixado o João à porta da escola, a Dá das sabrinas amarelas na aula de violino, o Joaquim a gatinhar pela selva, mandando às ortigas a hipotonia que trouxe ao nascer. O homem pediu-me um broche como quem pede uma esmola. Achei o pedido inoportuno. Sobretudo, desolador. É tão justificado o desprezo que tenho pelos homens em geral.