2009/10/01

Macaquinhos de imitação

Escutei um discurso diferente daquele que os jornalistas, analistas, comentadores e politólogos, têm, ao longo dos últimos dois dias, em catadupa e como é costume e desejável, analisado com total imparcialidade e rigor. Estava em casa com o meu Joaquim pequeno, solzinho da minha vida. Os outros andavam a monte. Sentada no chão da sala, as pernas abertas, o meu filho aninhado, fazendo construções de legos, um fio de ranho a escorrer-lhe do nariz, preparei-me para escutar o discurso do senhor presidente. Esperava um sermão aborrecido, cheio de paninhos quentes, institucional e apaziguador. Qualquer coisa que nos preparasse para a nova legislatura. Assim como a vacina da gripe nos prepara para o inverno. Enganei-me. Veio de lá um discurso explosivo. A meu ver, frontal e corajoso. Só pecou por tardio. O presidente disse aquilo que ninguém esperava. Chamou as coisas pelos nomes. O que não é habitual. Abalou os alicerces da democracia ao insinuar que o ps é um partido tentacular, uma espécie de polvo, que manipula e instrumentaliza a sociedade portuguesa. Esqueceu-se de dizer que o psd, sempre que pode, tenta imitá-lo. Mas, reconheçamo-lo, o ps tem a engrenagem melhor oleada. A maçonaria por detrás dá sempre jeito. O presidente deixou demasiadas dúvidas no ar? Deixou. Mas são dúvidas legítimas. Qualquer pessoa que leia jornais as tem. A mim, que sou uma simples jurista assalariada, mãe de família, habitante dos subúrbios, conforta-me que o presidente da república as tenha expressado em vez de fingir de está tudo bem. Não está tudo bem. Está tudo mal.

O congelamento da nota do juiz Rui Teixeira pelo conselho superior da magistratura, forçado por juízes conselheiros nomeados pelo ps, é demasiado grave para passar incólume. É bem demonstrativo do tal poder monstruoso do ps. O papel da procuradora Cândida Almeida na investigação do caso Freeport também. A senhora procuradora, já se percebeu, não está lá para investigar nada, mas sim para empatar, justificar, arquivar. Ora, se a justiça é, há tantos anos e com a complacência de todos, nos momentos chave, controlada pelo ps e pela maçonaria (casos há em que antes de se conhecer a sentença já os arguidos dormem descansados, certos de que serão ilibados), por que não há-de a comunicação social e o resto também sê-lo? Sentada na minha sala, enquanto o ouvia, aplaudi o senhor presidente que é feio que nem uma porta e tem uma boca que causa repulsa e nojo. O Joaquim largou os legos e com as suas mãozinhas tronchudas também o aplaudiu. O ranho já lhe chegava à boca. Macaquinho de imitação. O entusiasmo foi de pouca dura. Ouvi, logo de seguida, o António José Teixeira, o Ricardo Costa e a Constança Cunha e Sá. Desinchei. Confirmei as minhas suspeitas: não percebo um boi de política.