2007/04/20

Autópsia

Atiro-me da janela se, daqui a uns anos, o João adolescente quiser fazer parte de uma tuna académica. Não quero um João adolescente vestido de preto, como um corvo, a tocar cavaquinho, a bater pandeireta ou a fazer momices com uma bandeira. Não estou preparada para tamanho desgosto. É sinal de que falhei redondamente na sua educação. Estou descansada enquanto ele continuar a disputar comigo os olhos e os miolos das douradas que comemos à mão, lambuzando-nos como selvagens felizes.

(A Dá não gosta de olhos de peixe. Prefere chupar a espinha, arrancando-lhe, com perícia, a medula, um fiozinho translúcido com sabor a mar. O pai, esse, olha-nos horrorizado, enquanto come os lombos branquinhos com que lhe enchemos o prato.)