2007/04/09

Opilca

Manhã cedo, na aula de ginástica, ao levantar os braços durante o aquecimento, reparei que o Adelino, único homem da sala, muito simpático, cheio de meneios e galanteios, a fazer lembrar uma crisálida gigante, tem menos pêlos nos sovacos do que eu. Aliás, em rigor, não tem nenhum. Tirou-os com opilca. Quase de certeza. A minha auto estima, tão arredia nestes dias, olhou-me horrorizada. Encolhi-me. No final da aula, ao ver-me afogueada, o rímel derretido escorrendo o rosto, os poros dilatados, os pêlos a espreitar dos sovacos, as varizes marmoreando a minha perna direita, inchadas de azul, recusou-se uma vez mais a acompanhar-me. Ficou no ginásio a arremelgar os olhos para o Adelino, a borboleta impecavelmente depilada do ginásio. Não voltou ainda. Sumiu-se. Não sei para onde foi.