2007/04/13

Varejeira

Já o disse com a certeza que sempre se confere às afirmações insignificantes. A blogosfera é uma coisa medonha. Aborrece-me a maneira como a gente nela se escancara, de perna aberta, tal qual uma puta fácil, de lábios esborratados de baton carmim, partilhando intimidades, esculpindo a imagem que queremos que os outros tenham de nós. Eu, pelo menos, minto descaradamente, com os dentes todos, que é para me imaginarem interessante, escarnecer dos outros e sentir-me, insana que sou e me quero, diferente. Aborrece-me, sobretudo, a democraticidade da coisa. Qualquer intelectual de meia tigela armado ao pingarelho tem um blog. Qualquer pretenso comentador político escalpeliza, numa diarreia de textos ilegíveis, factos, histórias, notícias. Qualquer rocinante, que zurra aos quatro ventos a sua equídea natureza, largando cagalhões gigantes cor de palha, tem um blog. Qualquer miúda fantástica da Reboleira, daquelas que usam óculos escuros gigantes e, por isso, se assemelham a moscas de olhos metalizados, tem um blog. Enfim, qualquer bardamerda tem um blog. Coisa triste, escrever num blog.

(Hoje, confesso, estou especialmente bem disposta. Há sol. Eu sou do sul. Alimento-me de luz e de sol.)