2007/04/27

Superlativo Absoluto Sintético

Entre as várias categorias de palavras existentes, verbos, preposições, advérbios, pronomes, nomes, artigos, sempre gostei da dos adjectivos. Já nas aulas de gramática, dadas pela professora da quarta classe, a Vitorina, me rendia aos encantos deles. Mesmo agora, passados tantos anos, ao escrever, uso e abuso dos adjectivos. Utilizo vários para descrever um determinado local ou uma determinada pessoa. Para enfatizar, acentuar uma ideia.

Para além da sua função específica – caracterizar o substantivo -, o que me fascina nos adjectivos é o facto de terem vários graus. Os comparativos, de superioridade, de igualdade, de inferioridade. Os superlativos, absolutos e relativos. Uma plêiade de graus que conferem à à mesmíssima palavra diferentes significados. Em função do grau utilizado, o adjectivo pode ter sentidos opostos. Porém, o superlativo absoluto sintético é, de longe, o meu grau preferido. Por oposição, acho o superlativo absoluto analítico um grau aborrecido, dependente dos outros, que tem de recorrer aos advérbios – o muito, o bastante, o assaz - para conseguir alcançar seu propósito. O superlativo absoluto sintético, pelo contrário, sozinho, numa única palavra, consegue exprimir aquilo que o superlativo absoluto analítico diz em duas.

Agrada-me, depois, a transformação que o grau superlativo sintético impõe à palavra, ao adjectivo. A palavra inicial torna-se comprida, adquire um corpo esguio, ondulante, interminável. Subitamente, o adjectivo torna-se num comboiozinho de letras, numa palavra-lagarta-centopeia. Ferocíssimo, lindíssimo, felicíssimo, agilíssimo, belíssimo, miserabilíssimo, gordíssimo, magríssimo, longuíssimo, curtíssimo, espertíssimo, agradabilíssimo, antiquíssimo, facílimo, burríssimo. Gosto principalmente daqueles que são diferentes, que não resultam da simples adição do sufixo ao adjectivo inicial. Daqueles que, irreverentes, têm o atrevimento de modificar a forma, a composição inicial da palavra. Como por exemplo, paupérrimo, libérrimo e dulcíssimo. “Dulcíssimo” é das palavras que mais gosto ouvir dizer. Quando a digo devagar, as sílabas bem separadas, bem vincadas, sinto-a derreter na boca como se fosse o algodão doce, enjoativo, tingido de rosa, que comia quando ia à feira popular com os meus pais. Dul-cí-ssi-mo. Tem também o sabor do mel, dos caramelos com pinhões trazidos de Espanha, dos rebuçados peitorais que o meu avô trazia sempre nas algibeiras do casaco, da geleia de marmelo preparada, com azáfama, pela tia Dé nas primeiras tardes de Outono, dos quadrados esboroados de doce de grão vindos de Goa, do xarope de laranja com cerveja preta que a minha mãe fazia quando alguma de nós tinha tosse.