A Madalena foi comigo ao teatro. Aguentou – estoicamente, pobrezinha - uma hora e meia de uma peça falada em francês. Comeu muitas gomas. Escandalizou-se com uma bailarina nua. Arregalou os olhos, muito, muito, e espetando o dedo, disse “Achas que tem algum jeito uma mulher nua no meio desta gente toda?”. Claro que não tem, minha filha. Que queres que te diga? Os artistas têm destas liberdades. Durante a noite, acordou, chamando-me. Era tarde. Cinco da manhã. Quando lá cheguei, tonta de sono, abraçou-me e deu-me um beijo na boca, um beijo molhado, madrugador, muito pouco próprio para mães e filhas. Por fim, disse que eu era a melhor mãe do mundo. Tais palavras não me confortaram. Perderam-se na noite.