S. Pancrácio. S. André. S. Onofre. S. Jorge. S. João de Brito, Maria Auxiliadora. São muitos os santos que aqui moram. Tantos. Até há um Menino de Praga, um anão gigante e feio, com uma coroa imensa na cabeça. Que raio é um Menino de Praga? Às tantas dou de caras com uma santa cujo nome me surpreende. Santa Maria Gorete. Maria Gorete? Que diabo, Maria Gorete não é nome de santa. Luzia é nome de santa. Maria também. Clara, que é o meu, também é nome de santa. Agora Gorete não. Muito menos Maria Gorete. Gorete é nome de puta velha. E não é sequer nome de puta nova, que essas têm nomes como Patrícia, Carla, Paula, Marina, Vanessa e Sandra. Gorete é nome daquelas putas de cabelo oxigenado e barris na barriga que estão em vias de extinção. Como é que uma santa se pode chamar Maria Gorete? Não pode. É coisa que não percebo. E não aceito. Olho-a. Para minha surpresa é a santa mais bonita que vive nesta montra. Tem um ar triste. Tez nívea. Cabelo claro, de cobre. Veste um panejamento verde cor de jade e nas mãos segura um ramo de flores brancas. Narcisos ou orquídeas. Não sei. Muito casta. Muito pura. Sem nunca ter provado o sabor do pecado. Devota a Deus, Nosso Senhor, criador do mundo e de toda a podridão que o habita.