2006/07/05

Maria Gorete (5)

S. Pancrácio. S. André. S. Onofre. S. Jorge. S. João de Brito, Maria Auxiliadora. São muitos os santos que aqui moram. Tantos. Até há um Menino de Praga, um anão gigante e feio, com uma coroa imensa na cabeça. Que raio é um Menino de Praga? Às tantas dou de caras com uma santa cujo nome me surpreende. Santa Maria Gorete. Maria Gorete? Que diabo, Maria Gorete não é nome de santa. Luzia é nome de santa. Maria também. Clara, que é o meu, também é nome de santa. Agora Gorete não. Muito menos Maria Gorete. Gorete é nome de puta velha. E não é sequer nome de puta nova, que essas têm nomes como Patrícia, Carla, Paula, Marina, Vanessa e Sandra. Gorete é nome daquelas putas de cabelo oxigenado e barris na barriga que estão em vias de extinção. Como é que uma santa se pode chamar Maria Gorete? Não pode. É coisa que não percebo. E não aceito. Olho-a. Para minha surpresa é a santa mais bonita que vive nesta montra. Tem um ar triste. Tez nívea. Cabelo claro, de cobre. Veste um panejamento verde cor de jade e nas mãos segura um ramo de flores brancas. Narcisos ou orquídeas. Não sei. Muito casta. Muito pura. Sem nunca ter provado o sabor do pecado. Devota a Deus, Nosso Senhor, criador do mundo e de toda a podridão que o habita.