Do outro lado da rua há uma sapataria cuja montra espreito sempre que venho para estes lados da cidade. Não lhe resisto. A gente espreita lá para dentro e vê um arrazoado de sapatos, mais ou menos clássicos, mais ou menos ordinários, quase todos feios. Mas, depois, se focarmos os olhos e procurarmos na escuridão da montra, verificamos que lá atrás, na penumbra, empinados em suportes metálicos, há outro tipos de sapatos. Variam nas cores, nos materiais e nos feitios. Só não variam na exuberância e no exagero. Sapatos prostibulares. À falta de melhor designação, é assim que lhes chamo. São aqueles sapatos que as stripers usam enquanto cabriolam à volta do varão. E que usam as putas e os travestis brasileiros da Luciano Cordeiro, que também são putas, ou sucedâneo de putas (coisa triste de se ser, sucedâneo de qualquer coisa).