Abandono as santas, que me fazem sentir pecadora. Mundana. Deixo a Maria Gorete ao lado da Santa Clara. Fica em boa companhia. De que falarão elas, ali, na montra da loja suja, enquanto olham os transeuntes que passam sem as olhar? Desconfio, todavia, que, com o nome que tem, a Maria Gorete esconde qualquer coisa por baixo daquelas vestes. Esconde, esconde. Aposto em como por baixo do casto manto usa uns sapatos de plataforma, em verniz preto e plástico transparente, iguaizinhos aos que vi na sapataria do lado. E que nas noites quentes de verão se desfaz do manto verde e se põe a cabriolar, a dançar, insinuante, semi nua, na vitrine da loja. Para gáudio dos santos, dos santinhos, dos milagreiros e dos beatos, que, babosos e velhinhos, aplaudem. Ela não me engana com aquele ar de sonsa.