Todos os dias é igual. Um grupo de mulheres reza o terço lá à frente. Estão nisto que tempos. Ladainha atrás de ladainha. Balbuciam palavras de fé. Depois, quando terminam, cantam, esganiçadamente, uma canção que fala do céu. Só as oiço falar do céu. Céu, céu, céu, gritam elas, sempre em crescendo, amedrontando deus com tal desvario. Que importância terá para elas o céu? O que esperam elas do céu? Os outros, que morrem em nome de um outro deus qualquer, pelo menos esperam setenta virgens e rios de mel. Esperarão elas, as senhoras do terço, a imortalidade? Coisa aborrecida, a imortalidade. Eu, quando morrer, exijo, faço mesmo questão de ir para debaixo da terra e ser comida por bichos e bichinhos até me tornar em nada. Era o que mais faltava andar por aí, tempos infinitos, no jardim dos bem aventurados, feita parva, sem ter nada para fazer. Quando acabam de cantar, as senhoras do terço levantam-se rapidamente e trocam entre si cumprimentos. É então, nesse instante, nesse preciso instante, por uma das portas laterais junto do altar, que entram as outras senhoras.