2006/07/04

Havaneza (4)

Viro na Rua de São Domingos. É das que mais gosto em Lisboa. Apesar de ser uma ruazinha sem graça, cheia de pensões podres e casas de dormidas. Nela, movimentam-se pessoas feias. Eu sinto-me bem no meio dos feios, dos estranhos, dos dispensáveis. A montra de uma loja prende a minha atenção. Está repleta de figuras de santos, santas, santinhos, beatos, milagreiros. Olho para cima. Leio. Havaneza de São Domingos. Números quinze e dezassete. A elegância do nome da loja ter-se-á adequado ao que ela foi há muito tempo atrás. Agora é um buraco sujo, com a tinta estalada, de vitrines partidas e madeiras putrefactas. É uma loja feita de escombros. Ruínas. Olho lá para dentro. Vejo um homem que deve ter cerca de 60 anos. Perto do balcão, ajeita o escaparate dos postais. Tem um bigode branco e uns óculos encavalitados na ponta de nariz. Estranho-lhe a limpeza. Volto a fixar a montra. Leio o nome de todos os santos. Começo na prateleira de cima e vou por aí abaixo. Com vagar, com muito vagar, que ninguém me espera e a frescura da igreja não foge.