A estação tem um cheiro familiar. Açafrão, cominhos, pimenta, coco, coentro moído. Do chão da praça nascem repuxos e sombras. É um espelho feio de claridade e água. Uma mulher, de chapéu, alta, com ar de estrangeira, mergulha os pés descalços num dos lagos maiores. Ao seu lado brincam duas crianças pequenas e nuas. Da última vez que por ali andei, e não foi há muito, topei com o cadáver de um rato a boiar entre as águas. Ainda lá deve estar. A roçar nos pés pequeninos dos meninos. Atravesso a rua. Espreito a loja dos animais que fica por baixo de um hotel. Há pombos, rolas, periquitos, canários, pardais de java, bicos de lacre e coelhos anões. Observo com atenção os coelhos. Sei que, mais dia menos dia, cederei aos lacrimosos pedidos da minha filha para ter uma criatura de estimação.