2006/07/05

Santa Clara (6)

A Maria Gorete - recuso-me a chamar-lhe santa! - está ao lado da Santa Clara que é a minha santa preferida. Não só por ter o meu nome, mas também por ter amado Francisco. Eu compreendo-lhe o amor. Também me apaixonei por ele aos quinze anos. Francisco e Clara num campo de papoilas. Ao longe, as torres de Assis vigiam-nos. Aliás, por causa dele é que, durante a minha adolescência, quis ser freira. Não fui. Deveria ter sido. Era só procurar um bocadinho de fé, de crença, de vocação dentro de mim e teria dado uma óptima freira. De preferência, uma daquelas carmelitas-não-sei-das-quantas, de buço imenso e óculos de há cinquenta anos, que fazem voto de castidade, de silêncio, de tudo e mais alguma coisa e que morrem para o mundo e vivem em êxtase, numa espécie de divinal e infinito orgasmo, amando e louvando Deus. Decididamente, deveria ter sido freira. Pelo menos, tinha um orgasmo decente na vida.