Há uns sapatos que prendem a minha atenção. Têm uma plataforma gigante, de 15 a 20 centímetros. São feitos em plástico transparente e verniz preto. Uma espécie de armadura sado-masoquista sobe, depois, pela perna acima. Fazem lembrar uma prótese ou um cinto. São grotescos. Terrivelmente feios. Como as tatuagens, os piercings e as fibras sintéticas que guardam o odor axilar. Há qualquer coisa de não humano nestes sapatos. Quem os calça torna-se num demónio, numa qualquer figura horrenda e proscrita. Não sei muito bem. Deixo os sapatos prostibulares em paz. Não foi para vê-los que vim à Baixa.
Sou Ana de cabo a tenente/ Sou Ana de toda patente, das Índias/ Sou Ana do oriente, ocidente, acidente, gelada/ Sou Ana, obrigada/ Até amanhã, sou Ana/ Do cabo, do raso, do rabo, dos ratos/ Sou Ana de Amsterdam.