2006/07/11

Barcelona Red

Concorri ao concurso do Rádio Clube Português para escrever o final de uma radionovela que, pouco ou nada, tem a ver com as histórias que gosto de ler e, menos ainda, com as que gosto de imaginar. Mais do que a palermice de publicar um livro com a chancela da rádio (parece que é o prémio), o que me seduzia no concurso era a possibilidade de escrever a próxima radionovela do RCP (a outra parte do prémio). Já a tinha na minha cabeça. Uma história almovadoresca, cheia de mulheres, lágrimas borradas de rímel, travestis e canções dos Bee-Gees. Ia ser um sucesso. Todos os dias vou ao site da rádio para saber se por lá há novidades. Nada. Só tenho o telefone ligado para a iminência dele tocar a dar-me a boa nova. Sei, porém, que ela nunca chegará. Excedi largamente o número de caracteres pedido. Mandei o manuscrito depois de o prazo ter terminado. Troquei o nome a algumas personagens. Escrevi o final da história de uma assentada, sem grandes cuidados, pouca imaginação, numa tarde em que me vi sem miúdos. Precisamente uma semana depois de ter engolido não sei quantos comprimidos e ter passado uma noite no hospital, a ser assistida por uma médica nova que, se deus quiser, ainda há-de cruzar-se no meu caminho para a mandar para a puta que a pariu. Escrever radionovelas era actividade que me assentava que nem uma luva. Custa muito, a rejeição. Até já tinha título para a primeira. Barcelona Red.