Ontem, num dos muitos canais manhosos da Cabovisão, vi, de uma ponta à outra, um dos meus filmes preferidos: Annie Hall. Até aqui nada de estranho. Sou capaz de ver os mesmos filmes várias vezes. Assim como gosto de ler várias vezes os mesmos livros. Acontece que o filme estava dobrado em brasileiro. Ora, a minha obstinação pelo Brasil é notória e pública. No entanto, ouvir o Woody Allen, com voz de falsete, dizer “pôxa” em cada frase e a Diane Keaton, a maravilhosa Diane Keaton, com uma voz igual à das personagens dos filmes da Disney que são dobrados no Brasil, tipo a fada pequena e gorducha da Cinderela ou a empertigada Rainha das Flores da Alice no País das Maravilhas, é uma tortura. Não duvidem. É uma verdadeira tortura. No entanto, vá-se lá saber como e porquê, aguentei-a, estoicamente, até ao fim. Eu não ando bem. Decididamente não ando. É a loucura, a desfaçatez de espírito que, de mansinho, pé ante pé, se aproxima. Qualquer dia, ainda dou por mim, especada em frente do televisor, a ver um qualquer programa da Bárbara Guimarães. Credo. Acho que, mesmo louca, totalmente inerte e imbecil, não me sujeitaria a tamanho sofrimento.