2007/09/27

Chuinga

No quiosque da estação peço uma pastilha. Apetece-me uma chuinga. É assim que a minha mãe chamava, e continua a chamar, às pastilhas elásticas. Quando era pequena ficava a olhar-lhe para a boca e a pensar na estranheza da palavra que de lá fugia. Chuinga? Só mais tarde percebi a origem da palavra que, volta e meia, bailava na boca da minha mãe. Chewing-gum. Olho para as prateleiras das pastilhas. Uma panóplia de sabores. Ananás, azul explosivo, coca-cola, maçã, algodão doce, melão, morango, laranja, amora e por aí fora. Assusto-me com tanta variedade. Reparo, então, num daqueles boiões que antigamente se usavam nas mercearias para guardar rebuçados e caramelos. Está cheio de pastilhas, melhor dizendo, de chuingas maçadoras, de forma rectangular. Têm um rótulo pouco colorido, pouco apelativo. Estão definitivamente remetidas ao esquecimento. Ora, eu não gosto de discriminações. E nestas coisas sou sempre pelas minorias. Mesmo quando a minoria é imbecil, torpe, composta pelos proscritos, pela escumalha. É um defeito meu. Peço, por isso, à senhora do quiosque uma pastilha daquele frasco. Uma pastilha diferente da maioria alegre e explosiva de babulicious, gorilas e boomers. Desembrulho-a e meto-a à boca. Primeiro, estranho-lhe o sabor. Tem um sabor antigo, levemente decadente, que identifico depois. Sabe a circo, à feira popular, a Setúbal, aos gelados de cone que um velho espanhol, de olhar lascivo, vendia nos portões do ciclo preparatório.