2007/09/10

Chefe Silva (3)

Para além de me avivar estas lembranças, o Chefe Silva é uma espécie de guardião de dias preciosos e distantes, dias em que nos maravilhávamos, sem saber, com o encanto das coisas simples. Um estufado de vaca era um estufado de vaca. Um bolo de leite era um bolo de leite. Uma sopa de peixe era uma sopa de peixe. Não havia artifícios ou engodos. São patéticas as revistas de culinária de hoje (que continuo a comprar por vício) e os nomes sofisticados que se utilizam. Queijo de cabra acamado em plataforma caramelizada de figos secos com espargos selvagens salteados. Trilogia de três chocolates com nougat de nozes e xarope de hortelã. Tudo tão pedante, tão insuportavelmente pedante. Os pratos de fusão, cheios de ervas italianas e frutos vermelhos, mirtilos, casis, framboesas, são um sinal evidente da vacuidade em que vivemos. É pelo sabor genuíno do peru recheado da tia Dé, pelo leveza do bolo pic-nic, tão doméstico nas nossas vidas, pela mousse de chocolate consistente que todas fazemos, pelas tardes frias de Inverno aquecidas pelo chá e pelos churros da minha mãe, por tantos outros sabores, por tantas outras lembranças, que este ano quase me senti tentada a ir à feira do livro.