2007/09/12

Paris

Não demorou muito. A mana foi passar uns dias a Paris. Em vez de me trazer uma daquelas reproduções do louvre ou do museu d’orsey, muito deprimentes, que se encaixilham numa moldura barata e colocam por cima de uma mesinha com fotografias de família, trouxe-me duas ilustrações de Shiva. Numa das ilustrações Shiva está acompanhado por Ganesh e Kali, sua parceira preferida nos jogos sexuais (é o que diz num livro que consultei) e tem o tridente, o Ganges em forma de repuxo a nascer-lhe da cabeça, a pérfida serpente e vários falos de pedra à sua volta. Na glande dos ditos falos de pedra nascem flores cor-de-rosa. Parecem camélias. As ditas flores devem ter um significado qualquer importante. O esperma que representa o florescimento da vida. Qualquer disparate assim. Na outra ilustração, Shiva transfigura-se e assume a forma de um flautista jovem que, num bosque de um dourado verdejante, nos olha inocente e puro. Perguntei-lhe onde as encontrou, tão magnificas, tão coloridas, tão kitch. Explicou-me que, num dos seus passeios, por um qualquer bairro parisiense, tropeçou numa loja de místicos artefactos indianos e deu de caras com a família de divindades hindus. Olhei-a. Com espanto. Andei eu, por sugestão dela, no Martim Moniz, de saltos altos e meias de vidro, metida num lago de mijo e merda, para encontrar Shiva e ela, tão cosmopolita, tão cidadã do mundo, tão viajada, foi encontrá-lo num pacato bairro parisiense. É mesmo insolente. Insuportável.