2007/09/30

Prédio

O prédio onde os meus pais moram, a pouco e pouco, começa a ser um prédio de viúvos e viúvas. A vizinha do 6º direito disfarça a solidão com copinhos de licor de café. O coronel do 1º direito esperou que a mulher morresse, tanto que demorou, para casar com uma loira de rugas fundas e voz nasalada. O Sr. Ribeiro passa os dias a caminho do supermercado. Vejo-o chegar, carregado de sacos. A D. Lúcia sempre que me apanha no elevador gaba-me a beleza do marido. Era um belo homem, era um grande homem, diz ela, enquanto eu baixo os olhos. O marido dela era muito pequeno, quase anão, mirrado, encolhido como um roedor. A D. Odete, que fez arranjos de costura a vida toda, educa os netos à medida que as filhas se divorciam e arranjam novos companheiros. Entristeço ao vê-los. Sou mais filha que mãe.