2007/09/07

Cornichons

Ando viciada em cornichons. Como seis a sete por dia. É um vício deplorável. Vou ao frigorífico. Abro o frasco, bojudo e largo, comprado, baratíssimo, no lidl, enfio as mãos dentro do vinagre frio e escolho dois ou três pepinos anões. Coloco-os em cima da bancada. Olho-os. Tão pequenos. Sinto um ligeiro desconforto por comê-los. Acontece-me o mesmo com as cenouras bebés, as petingas, os jaquinzinhos e também com as ervilhas tortas. Não consigo evitar. Comer uma petinga é o mesmo que “comer” uma criança. Comer um pepino anão é o mesmo que “comer” um deficiente. Tais inquietações depressa passam. Uma vez ultrapassado o complexo de culpa, enfio os cornichons na boca. Um de cada vez. Gosto do sabor do vinagre. É um sabor excessivo, mas limpo. Sempre gostei. Em miúda, esgueirava-me para dentro da despensa, esticava-me e, assim, em bicos de pés, procurava a garrafa do vinagre na segunda prateleira. Quando a encontrava, entre os mil e um frascos de especiarias da minha mãe, mesmo ao lado da garrafa de azeite, certificava-me de que ninguém me via. Principalmente, a tia Dé, sempre tão atenta, capaz de armar um pé de vento se encontrasse a sua sobrinha mais velha, ajuizada e exemplar, a beber vinagre. Se não visse ninguém, enfiava o gargalo da garrafa na boca e bebia goles pequeninos. Sentia-me reconfortada com aquele excesso de sabor. Tenho uma explicação de cariz sexual para a minha adição a pepinos anões, mas abstenho-me de a enunciar.