O ginásio é antigo, de madeiras escuras, tectos altos com estuque trabalhado. Há retratos dos primeiros presidentes da colectividade pendurados nas paredes. Senhores gordos, com bigodes retorcidos e cabelo puxado com brilhantina. Em Cuba, imagino, deve ainda haver muitos ginásios como este, com cheiro de óleo de cedro. Só que, em vez de praças cheias de autocarros, hão-de dar para praças com jacarandás e rosas-da-china e mulheres velhas que vivem em prédios descarnados e usam medalhas com la virgen de la caridad. Ao fundo, um palco, guardado por reposteiros pesados de veludo cor-de-vinho, acumula o pó das memórias e dos mortos. Um grupo de meninos ensaia saltos do trampolim sobre o plinto. Outro grupo faz exercícios de tapete. Pinos. Rodas. Cambalhotas. Quatro janelas largas deixam entrar a luz serôdia do final do dia. É uma luz amarela que ameaça com trovoadas. Reparo nas argolas e nas barras paralelas, nos colchões já velhos, cansados de tantos saltos, tantas acrobacias. A minha filha, aninhada aos meus pés, calça as sapatilhas em silêncio. Não se amedronta por ser a sua primeira aula. Tem corpo de ginasta. É pequena e esguia. Depois de receber as indicações do professor avança para o fim da fila e espera a sua vez. Espanta-me o desembaraço dos meus filhos. Donde lhes vem a confiança e a calma para enfrentar o mundo e os outros? Duas meninas mais velhas falam com ela. Uma pega-a ao colo. A minha filha sorri. Quando chega a sua vez faz três cambalhotas seguidas. É o único exercício que sabe fazer. Depois arrebita o rabo e levanta os braços. Tal como lhe ensinei. Parece uma Nadia Comaneci pequenina, cabriolando no ginásio cubano que fica no Poço do Bispo.
(no y de hoje uma reportagem sobre as power mun, ou lá como é que lhes chamam, as mães bloguers, artesãs, informadas, licenciadas, pós-graduadas, citadinas, que gostam de tricotar cachecóis e de cozer pão. Odeio-as. O que não é de estranhar porque eu desprezo quase toda a gente. Com excepção da Rosa e da Ana, acho-as todos uma parolas, muito dadas ao retro, ao vintage, ao feltro, aos sabonetes ach brito, à amamentação de longa duração e a concertos de música alternativa para bebés.)
(no y de hoje uma reportagem sobre as power mun, ou lá como é que lhes chamam, as mães bloguers, artesãs, informadas, licenciadas, pós-graduadas, citadinas, que gostam de tricotar cachecóis e de cozer pão. Odeio-as. O que não é de estranhar porque eu desprezo quase toda a gente. Com excepção da Rosa e da Ana, acho-as todos uma parolas, muito dadas ao retro, ao vintage, ao feltro, aos sabonetes ach brito, à amamentação de longa duração e a concertos de música alternativa para bebés.)