2007/09/02

Martim Moniz (Shiva)

Decidi que quero uma imagem de Shiva em casa. Entre outras coisas, Shiva é o deus da destruição. E não se menospreze o poder da destruição. Só depois de se destruir se pode voltar a construir. Perguntei à mana onde é que nesta cidade podia encontrar Shiva. No Martim Moniz, é óbvio, disse ela com aquele ar insolente, de criança mimada. Pedi-lhe que me acompanhasse na busca. Que não podia, que tinha coisas a fazer. Resolvi, por isso, procurá-lo sozinha. Desci ao centro comercial da Mouraria, sob o olhar atento dos homens, de todas as raças e feitios, que se amontoam na escadaria central. Nas lojas dos meus patrícios - é como o meu pai chama aos indianos, a todos, mesmo que sejam siks de turbantes cor de açafrão - entre bugigangas, penduricalhos, lantejoulas, especiarias, cachecóis, lenços, procurei Shiva. Em vão. Nada. Nenhum sinal. Nem a serpente, nem o tridente, nem o rio que lhe nasce na cabeça, nem o objecto fálico que o costuma acompanhar e cujo nome não recordo.